22 de janeiro de 2014

AA Ponte Preta, essência e aparência

Da revista Brasileiros - Ponte Preta, a essência e a aparência - Renato Pompeu - Como torcedor da Ponte Preta, tenho um lado racional, embora emotivo, mas tenho um outro lado, místico, mais verdadeiro. Do ponto-de-vista racional, que como vimos sente também emoções, fiquei muitíssimo feliz, felicíssimo, em êxtase, por ter a Ponte Preta voltado ao seu lugar de direito, a Série A do Campeonato Brasileiro. Mas meu lado místico encarou isso como uma mera contingência mundana, que não tem a ver com a essência eterna da verdade. Essa verdade essencial eterna é de que a Ponte Preta, no Mundo Perfeito, lá no Alto, que para Platão é o Mundo das Ideias, para as religiões abraâmicas é o Paraiso, para o hinduísmo é o Brâhman e para o budismo é o Nirvana, para o filósofo Hegel é o Espírito, nesse Mundo Perfeito, que é o mundo das essências, e não no mundo das aparências, não no mundo da rasa existência cotidiana, a Ponte Preta é, sempre foi, e eternamente será, Campeã sempre. Pois a Ponte Preta, para o torcedor autêntico, sempre será cultuada como uma Divindade. É fato que, no mundo das aparências, que é o mundo do cotidiano enganoso, o mundo das ilusões , a Ponte Preta desse mundo inferior não é Campeã Mundial Eterna. Mas minha tia-bisavó mãe-de-santo previu, nos anos 1940, quando nasci, que essa Ponte Preta ilusória, quando, no mundo das aparências, fosse finalmente Campeã Paulista, o Campeonato Paulista nunca mais seria disputado, pois teria cumprido a finalidade para a qual foi criado. Do mesmo modo, quando finalmente essa Ponte Preta meramente contingencial fosse, nesse mundo enganoso, finalmente Campeã Brasileira, o Campeonato Brasileiro iria acabar. Coerentemente, no dia em que essa Ponte meramente existente, e não essencial, fosse finalmente Campeã Mundial, o próprio futebol teria chegado ao fim, pois teria cumprido o destino para o qual foi criado, ou seja, o de o mundo contingente, afinal, coincidir com o Mundo Verdadeiro, que é o Mundo da Espiritualidade, com o que a Ponte Preta será, como é no mundo verdadeiro, Campeã Eterna. Note-se, que nos anos 1940, não se cogitava de que o Campeonato Paulista pudesse um dia acabar, não se imaginava que haveria um Campeonato Brasileiro de Clubes (o Campeonato Brasileiro de Futebol da época era um Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais), muito menos que haveria um Campeonato Mundial de Clubes. Hoje, já sabemos que o fim do Campeonato Paulista está no horizonte das possibilidades e a hipótese maior é de que se trata apenas de uma questão de tempo. A profecia de minha tia-bisavó, portanto, está a se cumprir. Assim, é com toda serenidade e contenção que nós, torcedores da Ponte Preta, contemplamos a ascensão da Ponte no mundo meramente material. Pois, no Mundo do Puro Espírito, que é o único mundo verdadeiro, a Ponte Preta é A Campeã. - Renato Pompeu é jornalista e escritor, autor do romance “O mundo como obra de arte criada pelo Brasil”, Editora Casa Amarela, São Paulo, 2008

Nenhum comentário: