15 de janeiro de 2014

Literatura judaico-alemã

Da Carta Capital - Passagens reveladas - Se os nomes de muitos escritores e pensadores judeus que escreveram em alemão, como Martin Buber, Elias Canetti e Franz Kafka, são bem familiares entre o público culto brasileiro, soam como verdadeiras e bem-vindas revelações as análises, ao mesmo tempo emocionadas e profundas, sobre obras de autores judeus menos conhecidos, mas de alto valor cultural, como Berthold Auerbarch e Joseph Roth, elaboradas pelo professor da Universidade de São Paulo Luís S. Krausz no livro “Passagens – Literatura judaico-alemã entre gueto e metrópole”, publicado pela Edusp e Fapesp. O grande tema da obra, porém, é o dramático e complexo relacionamento entre os dois mundos da cultura judaica europeia: o mundo tradicional, milenarmente construído sob o signo da eternidade no exílio dos guetos, e o mundo moderno, em que judeus que buscavam acompanhar as febris mudanças do Iluminismo e do capitalismo se desligavam da “ignorância” e “obscurantismo” que viam na sua cultura tradicional. Mas, antes mesmo que o caminho da “civilização” levasse a Auschwitz, esses mesmos judeus modernizados sentiam também a nostalgia do mundo do gueto, em que, se as escolhas morais podiam redundar em situações difíceis em relação ao mundo cristão hostil, eram, em si, claras e simples, muito diferentes das difíceis e até trágicas escolhas implícitas na modernidade a que aspiraram se “assimilar”, mais confortável física do que espiritualmente, até em seus melhores momentos. Mesmo porque o mundo cristão não encarava esses judeus predominantemente como convidados, sim primordialmente como intrusos. Chama a atenção, também, a falta, nos dois mundos judaicos, de maior presença de autoras mulheres. – RENATO POMPEU

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