O incompreendido José Bonifácio

Da Carta Capital - Patriarca antes do tempo - Do santista José Bonifácio (1763-1838), o Patriarca da Independência, se pode dizer que, como pai da Pátria, era bem mais jovem do que esta sua filha que é a nossa Nação. No livro “José Bonifácio”, da historiadora paulista Miriam Dolhnikoff, editado pela Cia. das Letras, uma rica e bem abrangente biografia deste que é um dos poucos brasileiros a merecer o honroso título de sábio tal como se usava essa palavra à moda antiga, fica bem claro que ele era um homem bem à frente de seu tempo. Para José Bonifácio, já no começo do século 19, as duas questões fundamentais no Brasil eram a abolição da escravidão e o fim do racismo antimiscigenação. Também já antevia que não bastava libertar os escravos, era preciso assegurar aos libertos um lugar digno na sociedade. Talvez ele tenha chegado a essas conclusões tão pioneiras que até hoje ainda não foram plenamente resgatadas, porque era um dos poucos brasileiros da época com formação científica – mineralogista reconhecido internacionalmente – além de jurídica, como era comum na época na elite. Assim pôde olhar o Brasil de um ponto-de-vista científico e não do ponto-de-vista dos direitos adquiridos, como o de ter escravos. Por isso mesmo irritou a tal ponto os membros da elite que, duas vezes depois de ter chegado a altos postos e ameaçado cumprir seus projetos, foi expulso para o ostracismo. Como estão no ostracismo até hoje os descendentes dos escravos e dos miscigenados que tentou redimir. – RENATO POMPEU