12 de abril de 2013

A Graça da Revolução Permanente, por Etapas Mensais

O mau humor dos esquerdistas radicais, enquanto o mundo ruma ao socialismo. Renato Pompeu Há mais de 120 anos os meios mais avançados entre os seres humanos mais progressistas adotaram como fato líquido e certo o de que o futuro da humanidade só tem duas saídas possíveis: ou o socialismo, ou a barbárie. Isso já tinha sido prefigurado por Marx, quando constatou que o desenlace de cada luta de classes é, ou a vitória de uma das classes envolvidas, ou a extinção de todas as classes em luta. Portanto, o socialismo não é “inevitável”, como acredita boa parte dos esquerdistas radicais, pois há outra saída para a humanidade além do socialismo, ou seja, a saída da barbárie. Hoje, mais de um século depois de já estarem previstas teoricamente as duas saídas possíveis para os seres humanos, isso já deixou de ser uma questão teórica, pois passou pelo teste da experiência. De fato, ao longo do século 20, a humanidade oscilou entre o socialismo do socialismo real, o socialismo da social-democracia, particularmente o socialismo escandinavo, mais o socialismo do New Deal e do Estado do Bem-Estar Social, o estatismo terceiromundista, de um lado, e, de outro lado, balançou pela barbárie do nazifascismo e das ditaduras de direita e de esquerda, da Primeira e Segunda Guerra Mundiais, do Holocausto, do genocídio colonialista, do genocídio racista, da derrocada do socialismo real. E agora, no século 21, enquanto surge na Venezuela um socialismo social-democrata que tenta ser um socialismo escandinavo e na China surge o que lá se chama de socialismo de mercado, de outro lado nunca esteve tão evidente o risco de a barbárie do capitalismo redundar tanto numa guerra nuclear em larga escala, como numa catástrofe ambiental nunca vista, e aomda numa regressão a formas de governo antidemocráticas até mesmo nos países capitalistas mais avançados. Continuamos, portanto, com a perspectiva sorridente do socialismo e com a alternativa sombria e carrancuda da barbárie. Diante dessa situação parece bastante adequado seguir a recomendação do líder comunista italiano Antonio Gramsci: cultivar ao mesmo tempo o pessimismo da inteligência, para percebermos claramente os riscos de chafurdarmos na barbárie, e o otimismo da vontade, para termos ânimo de prosseguir a luta pela outra saída desse dilema inexorável, o socialismo. No entanto, são exatamente os esquerdistas mais radicais, que navegam nas nuvens da “inevitabilidade do socialismo”, sem se darem conta de que o socialismo não é de modo nenhum inevitável – sempre existe a sombra da barbárie, a ponto de banhar numa cor autoritária e algo desumana o próprio socialismo, quando este chega a se concretizar –, são exatamente esses esquerdistas mais radicais, que acham que “o caminho é sinuoso, mas o futuro é radiante”, que são os mais mal-humorados seres humanos de que jamais se teve notícia, sempre carrancudos e de sobrecenho carregado. Nunca vi um único deles dar sequer um sorriso, quanto mais uma risada ou mesmo uma gargalhada. Não cultivam assim o otimismo da vontade e na verdade se comportam sempre como se acreditassem que vivemos no pior do mundos possíveis e que nada disso vai mudar, a não ser para pior, no futuro previsível, que é a nossa existência terrena. Esses esquerdistas radicais ainda estão presos ao dilema rançoso da Revolução Permanente de Trotski vs. a Revolução por Etapas de Stalin. Não se lembram da dialética, que diz que uma coisa pode ser ela mesma e seu contrário ao mesmo tempo, ou seja, que a revolução permanente tem as suas etapas e que a revolução por etapas está passando permanentemente de uma etapa para outra. Que dizia a Revolução Permanente? Que o proletariado tem de assumir o poder para cumprir as tarefas da Revolução Burguesa que a burguesia se revelou e se tem revelado incapaz de cumprir e em seguida o proletariado deve encaminhar a Revolução Socialista em escala nacional e em seguida em escala internacional. A Revolução por Etapas diz que é a própria burguesia que deve comandar a primeira etapa, a de cumprir todas as tarefas da Revolução Burguesa, com o apoio do proletariado, que em seguida assumirá a hegemonia para cumprir as tarefas propriamente proletárias. Esses dois conceitos teóricos contraditórios, o que implica em serem iguais entre si, foram desde o seu surgimento comprovados parcialmente pela prática: o proletariado soviético cumpriu as tarefas burguesas da NEP, tentou instaurar o socialismo, tentou depois da Segunda Guerra expandir esse socialismo para fora de suas fronteiras. Tudo de acordo com os dois figurinos, o permanente e o por etapas. Só que não se percebia o fato de que se estava instalando um socialismo irreal, pois não partia das regiões mais avançadas no capitalismo, e sim de regiões bem atrasadas. O que se conseguiu foi um modo de garantir a acumulação primitiva do capital nos países do socialismo real, o qual não suportou a revolução tecnológica e acabou desaparecendo como todos os modos pré-capitalistas de produção, para dar lugar a um capitalismo mais desenvolvido. Enquanto isso, a coalizão governamental no Brasil, liderada pelos proletários mal e mal representados no PT, PDT, PCdoB, tem praticado a revolução permanente e por etapas, notadamente neste mês de abril na frente do trabalho doméstico, na frente do respeito aos gays e na frente antirracista (estas duas últimas frentes intensificadas pelo caso da Comissão dos Direitos Humanos e do pastor Feliciano), sem contar a frente desenvolvimentista com pouca inflação, notoriamente ora em dificuldades, tudo tarefas da Revolução Burguesa; no caso das domésticas e na frente antirracista, começam a ser dadas as últimas (ou as primeiras?) pás de cal nas mazelas herdadas da escravidão. De fora, o PSOL, PSTU e os demais ajudam essa movimentação progressista para evitar a barbárie e fazer avançar o socialismo. Por que, diante de tudo isso, os cenhos carregados? Sorriam como as domésticas estão sorrindo, apesar de saberem que parte delas vai ficar desempregada. Lembrem-se: “revolução” não é “insurreição”. É “mudança mais ou menos lenta ou rápida do equilíbrio de poder entre as classes, em favor das classes mais prejudicadas”. Se isso não é visível no mundo em geral, é bem claro que pelo menos no momento está ocorrendo em nosso País.

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