25 de setembro de 2013
Pimenta Neves: não faltaram avisos
Ca194ideias
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Ideias de Botequim
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Neste 1.o de maio, livros contundentes sobre o trabalho dos
jornalistas e até sobre os estudantes enquanto trabalhadores
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Renato Pompeu
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Um livro particularmente impactante deste mês é “Pimenta Neves –Uma reportagem – Os bastidores do crime que abalou a imprensa brasileira. E a história do homem que o cometeu”, de autoria do grande jornalista paulista Luiz Octavio de Lima (famoso por ter sido o principal criador do bem conhecido Museu da Corrupção), Editora Scortecci, Aqui se vai privilegiar uma das várias versões sobre os fatos nele relatados, lembrando-se que Lima não optou por essa versão que vem abaixo, nem por nenhuma das várias versões contraditórias e autocontraditórias, como bom jornalista que apresenta como fatos reais somente as verdades factuais, entre elas os relatos que ouviu. Aqui se opta por uma das várias versões dos fatos, por ser a mais sinistra e a mais capaz de nos lembrar que prevenir crimes é dever de todos, dever principalmente dos jornalistas, por serem muito mais bem informados do que quase todos os demais setores do público geral. Isso embora os jornalistas raramente informem tão bem quanto Lima nesse episódio em que fez pesquisas exaustivas, a ponto de ter ouvido centenas de partes envolvidas e de fontes especializadas sobre todos os aspectos cobertos pelo seu livro, dos criminais aos psicanalíticos, passando pela história da família Pimenta e por posições contraditórias a respeito do ambiente profissional das redações contraditórias.
Aqui vai a versão mais contundente, divulgada por Lima como uma entre várias outras, sem que ele opte por nenhuma, por falta de comprovações absolutamente decisivas: décadas antes de matar a colega sua amante, o grande jornalista Pimenta Neves já havia estuprado e espancado uma jovem sua subordinada na Folha de S. Paulo. Como na época, ainda muito mais do que hoje, a Polícia presumia que uma queixa de estupro provinha na verdade de um ciúme da mulher após a interrupção, pelo homem, de uma relação consensual, aquela jovem não se queixou á Polícia, e sim a todos os jornalistas que pôde encontrar na redação da Folha, que simplesmente não a levaram a sério. Traumatizada, ela se mudou para os Estados Unidos. Décadas depois, lá mesmo, ela ficou sabendo que Pimenta Neves se tornara diretor de redação de O Estado de S. Paulo, um dos poucos jornais brasileiros de renome internacional. Imediatamente ela mandou uma enxurrada de e-mails a todos os endereços de e-mails de jornalistas do Estadão que pôde descobrir, numa época em que já começava a ficar público e notório, na redação do Estado e mesmo em outras, que a relação entre Pimenta e a subordinada sua amante se estava deteriorando. Esses e-mails insistiam infatigavelmente em que Pimenta tinha de ser afastado daquele cargo, que o tornava um dos poucos jornalistas mais poderosos do mundo, pois, segundo os e-mails, Pimenta tendia a aproveitar suas situações de poder para tratar com violência e arbitrariedade as pessoas suas subordinadas, Os e-mails a vários jornalistas do Estadão diziam ainda que, como o poder de Pimenta havia se tornado imenso, aquilo com certeza ia acabar muito mal. Ninguém lhe deu atenção e os e-mails viraram motivo de piadas folclóricas sobre os delírios de uma mulher histérica. Deu no que deu. Essa, como vimos, é apenas uma das versões do livro de Lima, que apresenta todas as versões em pé de igualdade, sem optar por nenhuma delas.
Outro livro contundente é sobre os estudantes, considerados por um dos maiores líderes dos trabalhadores da história, Lenin (embora este nunca estivesse, como ser humano, isento de equívocos e de falhas), segundo o qual os estudantes são em geral aliados dos trabalhadores e segundo o qual o principal dever de todos e cada um dos estudantes é trabalhar e trabalhar para “estudar e estudar sempre mais”. Trata-se do livro “Anatomia do trote universitário”, do professor Antonio Ribeiro de Almeida Junior, Hucitec Editora.
Fruto de uma pesquisa de anos junto a centenas de episódios de trotes e a centenas de jovens e não tão jovens atores nesse drama, Almeida Junior prova decisivamente que o trote está longe de ser uma atividade recreativa e divertida proposta por “veteranos” a “calouros”. Trata-se, isso sim de atividades bárbaras, selvagens, racistas, violentas e agressivas, que causam mortes e ferimentos físicos, morais e na autoestima dos jovens calouros a elas submetidos. E, acima de tudo, Almeida Junior comprova indiscutivelmente que, na maior parte dos casos, os trotes não são decididos pelos veteranos, que se limitam a executar as ações programadas por uma hierarquia clandestina composta de professores e até mesmo de dirigentes de faculdades e de universidades!!!
Os dois livros causam, literalmente, pasmo, diante do que acontece nas redações e nas escolas do ensino superior.
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Um comentário:
bom comentário, renatão. abraço
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