12 de outubro de 2013

A escritora Danuza Leão

Resenha do Diário do Comércio de São Paulo - Danuza Leão, tão simples assim? - Renato Pompeu - Perto de completar 80 anos de idade no ano que vem, a jornalista da imprensa e da televisão e escritora capixaba radicada no Rio de Janeiro Danuza Leão, que na juventude foi modelo e atriz, e que viveu grande parte de sua vida entre o glamour proporcionado pela convivência com a irmã, a falecida cantora Nara Leão, e o ambiente de luxo e poder proporcionado pelo marido, o também falecido jornalista e empresário Samuel Wainer, agora, no recém-lançado livro “É tudo tão simples”, publicado pela Agir, divulga aforismos sobre o bem-viver e sobre a sensação de liberdade e de conforto desencadeada pela despreocupação em ostentar riqueza. Acima de tudo, ela mostra que tem luz própria, e não apenas por ser há décadas uma das mais bem conhecidas socialites do Brasil. Afinal, esse é o seu oitavo livro e, como colunista de jornal, ela se tornou uma das mais influentes formadoras de opinião do País, não só sobre etiqueta, ramo em que é a principal especialista brasileira, mas, principalmente, sobre a sabedoria de bem levar a vida. No novo livro, a partir de sua rica vivência de quem conviveu de perto com os bem-nascidos, com os muitos ricos e com os poderosos, ela constata que o luxo e a badalação não trazem felicidade e, como comportamentos, são até mesmo vulgares. Como diz o próprio título da obra, hoje ela prega a mais extrema simplicidade em tudo na vida, desde os arranjos de mesa – para quê tanta prataria, ela pergunta – até o modo como um gay deve sair do armário. Mas será que o que ela aconselha é tão simples assim? “Ter cara de rica envelhece”, diz Danuza Leão, mas como os recém-chegados à classe alta e à classe média alta vão se sentir seguros nos novos meios sociais que frequentam sem que se imponham à admiração pública por ostentarem riquezas? Será que é tão simples assim passar as horas de lazer simplesmente conversando na sala de estar com pessoas amigas sobre assuntos profundos ou mesmo banais, ao invés de viver noites extravagantes? A rigor, o aprendizado da simplicidade é muito difícil e complicado. Ela aconselha, por exemplo: “Num feriado chuvoso, tome coragem, abra todos os armários da cozinha e jogue fora, sem medo, tudo que você não usa, verdadeiramente, tipo aquele ralador de gengibre comprado em Los Angeles, durante a Copa nos Estados Unidos (...). Todos os eletrodomésticos que nunca foram usados, não são nem nunca serão, vão para o lixo, sem piedade, e os que estão quebrados e não têm conserto, também. Por que você, que mora só, tem de ter uma batedeira?” Isso é tudo muito importante para quem quer viver uma vida autêntica, não quer ser consumista e não quer causar danos desnecessários ao meio ambiente. Mas será que é assim tão simples para quem veio da classe média e acabou de ingressar na classe alta? Afinal, os próprios psiquiatras e psicoterapeutas afirmam que fazer compras é uma das atividades mais terapêuticas e que mais proporcionam um bem-estar emocional, ainda que temporário e ilusório. As pessoas sabem que dinheiro e objetos de luxo não trazem felicidade, que só é proporcionada pelo amor, pela amizade, e por se estar bem consigo mesmo. Mas as pessoas também pensam que, para encontrar pessoas que as amem ou que dela sejam amigas, o dinheiro e os objetos de luxo são polos de atração. Assim, os conselhos que Danuza Leão dá, sobre como se levar uma vida realmente autêntica, proveitosa e satisfatória, não são tão simples quanto parecem. Viver uma vida simples é uma tarefa complexa e, entre a maioria das pessoas, é uma aspiração que só se adquire com o tempo e com a maior experiência de vida. Afinal, se tudo fosse tão simples, os conselhos de Danuza Leão não seriam tão necessários quanto são. Por tudo isso, o livro deve ser lido com atenção, especialmente pelas mulheres, como manual do bem-viver que é. Senão, vejamos: “E vamos deixar claro: o dia da mulher – e só o dela – merecia ter quatro horas a mais, para dar tempo de ler os jornais, os e-mails, fazer esteira, caminhar, arrumar o cabelo, a maquiagem, tuitar, conversar com os filhos, fazer charme para o namorado ou o marido, até mesmo trabalhar, tudo sem angústia ou culpa. Que mundo mais injusto”. Às vezes, até mesmo essa especialista em bem-viver tem dúvidas: “Em viagem, eu gosto de não ‘ter que’ nada, e sempre prefiro os bons momentos que tenho comigo a ver a mais fantástica obra de arte de um país remoto. Não sei se estou certa ou errada, e não estou dando conselhos. Cada um sabe o que privilegiar e fazer o que gosta de verdade, não indo nunca pela cabeça de ninguém, nem pela minha”. Pois os antigos já diziam: “E isto acima de tudo: sê fiel a ti mesmo”.

Um comentário:

3 vozes disse...

Ela é muito achincalhada hoje em dia. Liberdade de expressão não é algo muito apreciado no Brasil.